domingo, 26 de abril de 2009

Fantasias

Fantasias


Tudo de loucura que aconteça
Configurações produzidas pela cabeça
Fantasias: vidas inteiras sem existência
Contra o princípio da ciência
Relutam em nós sobreviver

Em momentos de pura solidão
Criações que se tornam ilusões
Como acontece com um coração
Que está cansado de paixões
E teme novamente se perder

Nas batalhas que não pude conquistar
Pelo medo que de mim se apodera
Como se na atmosfera
De repente acabasse o nosso ar
E não pudesse mais se viver

Mesmo impossível de se materializar
Causando uma terrível ferida
Sem sentido se torna a nossa vida
Sem um sonho pra se realizar
E toda uma vida se perder

sábado, 25 de abril de 2009

Batismo

BATISMO

Vi-me, de certa forma, distante
por um longo breve instante
a observar calado a calma de um lago
propago a certeza da calmaria
Chego perto e vejo sons
folheio míseras atitudes inertes
e sobrevôo soberano sobre ondas irrisórias
Sinto-me grande
conquisto aplausos surdos
e vejo meu reflexo distorcendo-se na clareza das águas
Um peixe mágico brinca
e solta uma voz inteligível à procura de meus tímpanos
não vou além e fico sempre a contemplar

Após um longo breve instante inerte mergulho
e uma forte correnteza me arrasta
sem fôlego, procuro ar e palavras
paralítico, escondo meus pés
e desejo ardentemente construir um casulo
e me esconder, sempre me esconder
Travei uma batalha, perdi o espaço
associei desejos e destruí o cansaço
Navego rápido, inutilmente rápido
mais rápido do que o tempo necessário para se auto-constituir
Me enquadro na marcha e sigo necessariamente para a frente
e incólume consigo atingir o mar
e marcar exatamente o meu próprio ritmo
E em todos os espaços imperam sons estéreis
10/05/2004

Noite (in)Esquecível

NOITE (IN) ESQUECÍVEL

I

Vejo estrelas
e um luar patético que invade minha pobre alma
o silêncio é entrecortado por sons esparsos
jorrados levemente e esparsamente
Caminho por uma calçada inexistente
fisicamente inexistente
como a própria caminhada inexiste
Caminho por entre sonhos (não) velados
descansos profundos, descansos forçados
descansos levemente entrecortados
Vigília e Insônia
ou, quem sabe,
um tumulto horripilante sinestésico
estruturado em sonhos tensos

II

Uma estrela cadente riscou um céu
ofuscado por luzes artificiais
o homem que agora descansa já muito construiu
e destruiu belezas naturais
e também o céu quer invadir
Muitos quilômetros a estrela percorreu
para morrer desintegrada na atmosfera terrestre
Pedidos não são atendidos
Suspendo minhas observações
e suspendo meu olhar ao céu
Como que me desfazendo
em uma prece impotente e sincera
meditando meus medos, vontades e realidades
distraio-me em meus sonhos que sonho acordado
e viajo como que realmente
por uma vida irreal

III

Certa vez me apaixonei por alguns olhos falsos
e neles cri fielmente, sendo deles o próprio autor metafísico
e era seu super-herói particular
pronto a atender todos seus desejos
pronto a salvá-la de situações improváveis
E sempre procurei encontrá-los realmente

IV
Dois gatos enamorados me trazem novamente á realidade
e escuto gritos como que crianças insones
e distraio-me novamente imaginando
quantas pessoas deliciam-se mutuamente
E em nada esta solidão me é depressiva
Vasculho minha memória
e resgato histórias irreais
de amores surreais e improváveis
Mas os gatos continuam com seus afazeres
E são pardos os gatos que continuam com seus afazeres
Entedio-me e olho além
Os gatos entendiam-se também e vão-se embora
e me deixam livre
e sem gatos
V
Impressiono-me com a luz de um vaga-lume
e fico perplexo com a quantidade de
seres que habitam a noite
seres que vivem simplesmente vivem
e lutam para simplesmente viver
A luz que passa não arrasta vivências
detenho minha atenção num reflexo
de luz que brilha soberana por entre luzes
Sirvo de alimento
à insetos impertinentes
Um mini-assassinato torna-se evidente
mancho minhas mãos de meu próprio sangue roubado
e percebo inerte as horas insones que passam

VI
Uma pessoa cruza a rua dentro do campo de minha visão
me sinto vivo
e tenho pena de alguém que não está dormindo
Ao longe escuto um grupo
cantando uma canção romântica distante
vozes desafinadas e bêbadas surgem
e caminham espaçosos por um espaço pequeno-apertado
Luzes novas acendem-se e a campainha soa
Luzes piscantes levam vozes embora
e lágrimas e sorrisos escorrem paradas de cima da janela
Imagino este momento célebre e real
com uma emoção simples
e saudosista
aguardando um momento assim para recordar
Várias janelas se abrem
já não me sinto sozinho
mas me vejo único e impotente frente à sonolência do mundo

VII

Uma voz sensível me chama de dentro de um abrigo real
mas não me impede de
ficar a andar parado em meus pensamentos
E sigo em frente...

VIII

Descubro pelos telhados imagens pouco prováveis
e me divirto com a agitação possível
de um casal de namorados que se agitam no escuro
Isto, namorem!
Vocês não sabem quantas desilusões o dia
que irá chegar pode trazer
Ah! Quantas lembranças do tempo em que eu não pensava!
(Como se algum dia fiquei sem pensar)
Tudo acontece; tudo observo
e não tenho companhia para compartilhar
este momento
madrugada afora
Olho o relógio e não me sinto diminuído em não dormir
e ainda falta tempo para uma correria diária
e inerte que em nada me atrai
Deixo a noite passar em claro e o dia a vir
passar em escuro
Deixo o outro dia para o outro dia

IX

De repente penso em soltar um grito instantâneo grito solto
para acordar toda a vizinhança
e não acordo nem a mim mesmo
com um grito poético e inexistente
travado por um medo de incomodar e de me ver
impossibilitado de observar anonimamente
todas as observações que agora faço
e deixo para lá toda a possibilidade de um grito real

X

Continuo patético a sentir um vento frio
aqueço-me com uma velha blusa
que outrora fora fonte de orgulho
e admiração visível e coerente
a emoldurar e proteger células iguais
células fabricadas em séries
já não me sinto desconfortável
meu corpo reage bem e destrói
qualquer possibilidade concreta de sono
Fito novamente toda a realidade de perto de mim
e acredito entendê-la por inteiro
e nada agora me prende a atenção
volto às minhas viagens internas

XI

Ontem à noite a chuva impediu-me de ver
algo além da própria chuva que caía na vidraça
senti-me inútil e anônimo
e resolvi fazer algo inesquecível em uma noite
que não seja a noite que chove...
O barulho atormentou meu cérebro
e me vi deitado à beira do sono.
Dormi profundamente

Hoje não há chuva
mas também não caiu uma torrente de ânimo sobre mim
e esta noite continuará esquecível
como tantas outras.
Deixo a inesquecibilidade para outra noite sem chuva
e inesquecível

XII

Observei a lua mais próxima
e me vi jogado leve
flutuando por entre suas crateras
Me vi menos lunático, se flutuasse leve na lua
ao invés de flutuar crédulo por entre
imagens fabricadas em momentos insólitos
Observei uma coruja a me observar
e percebi
que muito ainda há para observar
Levantei novamente meus olhos e
senti-me pequeno e minimamente iluminado
A distância impede um maior crescimento
Impotente resolvo não mais levantar os olhos, momentaneamente

XIII

Uma ave me chama a atenção quanto
ao surgimento de novas luzes, fortes
Incrédulo, deixo-me invadir por esta realidade
e verifico que a noite está no fim
Barulhos de automóveis rompem o silêncio
Ruídos de civilização...; progresso
Correria anunciada
hematomas distribuídos a corpos e corações
tensões no que tencionam viver
trabalho, trabalho, trabalho
e pouco espaço para realmente ser
Continuo calado
e não engulo este ar que me chega
Prefiro respirar o ar pouco sufocado
de dentro de mim

XIV

No horizonte levanta-se um sol real
e eu deito-me em minha realidade esquecida
distribuo um sorriso patético e adormecido
inscrito num espaço estético cansado
Já não há mais escuridão possível para me ocultar
e toda (i)realidade criada dilui-se na luz crescente
no que diminui-se minha paixão
Cansado, há um dia sonolento pela frente
sinto-me ausente e indestrutível
Sensível alegria desperta
no que se passou...

Círculo

CÍRCULO


Um navio cruza um céu aberto
isento de preocupações que estava
Uma estrela brilha distante
invadindo um mar tenso e tenro
recortado em imagens não estabelecidas em um inconsciente coletivo
De um rádio ouvem-se melodias psicodélicas
dias inteiros afogam-se solitários
O corre-corre do dia-a-dia
em nada auxilia na construção efetiva
de portos imaginários e seguros
Autores descontentes desaceleram atitudes estabanadas
e marcam crentes uma possível marcha impossível

Dragões alados assombram mentes inexpressíveis
multidões e multidões de mentes inexpressíveis
consumo...consumo...consumo
e uma dor infinita dilacerando qualquer possibilidade
Alguém proferiu um grito consciente
mas risadas pobres e sarcásticas o abafaram
Risadas pobres e sarcásticas sempre prevalecem...

O navio ancorou em um porto metafisicamente real
olhos ferozes ignóbeis aguardavam o desembarque
sempre há olhos ferozes ignóbeis no desembarque



19/02/2004

Início

Penso sempre em deixar minhas palavras poesias registradas para além de mim. Já namorava a ideia de escrever um blog a um bom tempo, para que outras pessoas leiam, comentem, enfim, deixem um recado para que eu perceba (ou não) se tenho jeito para a poesia... assim começo a postar com um antigo texto que fiz...

“Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?”

A sensibilidade destas palavras às vezes ataca meus sentidos. Sinto-me na necessidade incoerente e inconstante de percorrer possibilidades desta questão. Não à divisão de suas partes, mas ao espírito que ela carrega como um todo. Já me vi vagando várias vezes por entre estas palavras. Já as incorporei em parte ao meu dia-a-dia (quotidiano?). Somente em parte. Não me atribuo a genialidade de incorporar totalmente este espírito. Não tenho uma vida comum, é certo, mas onde está a marca da diferença? Onde está o rompimento específico que norteia meus passos, meus desejos. Não há nada, ou quase nada. Existem palavras. Existem versos. E nestes versos encontro todas as possibilidades liberdades que não rompi na realidade e ficaram incrustadas em minha mente. Memória. Memórias remexidas que não dividem realidades e fantasias. Ou pura invenção de desejos. Assim são meus versos aqui agrupados. Dizem e não dizem de mim. Não são exatamente eu. Diria que se parecem mais com um labirinto, móvel, onde há caminhos diversos, os quais podem me revelar um pouco, mas que aparece sempre em contínua mudança, apontando caminhos estranhos caminhos diversos caminhos. O que há de melhor é perder-se por entre os versos. Ou perder-se neste labirinto.