quarta-feira, 20 de maio de 2009

Posto de (não) Observação

Fui correndo para o meu posto de não observação
Juntos escutamos uma ave de mau agouro
que voava perto de uma tempestade de ilusões
Reparti-me na coesão de dois hinos célebres
e deverias me banhar com a inquietude de um sorriso
impreciso, digo audaz
Refaz em mim o futuro dispersado pelo passado
ousado sonho mordaz
Me fiz inteiro mas me perdi
entendi que sou em partes
Me dividi e enxerguei por inteiro
subi em um outeiro
observei, incrédulo, o movimento metafísico do mar
seu ar apaixonado encontra-se
cansado ou desiludido
Saí crente em ter visto, para além da chuva que cai,
uma sombra quase conhecida
esquecida atrás d’uma neblina chamada Tempo!

As mensagens continuam a chegar
e daqui de meu posto percebo
as mensagens que continuam a chegar

Discordo freqüentemente de hábitos alienados e impostos
algumas palavras exatas e inexatas me trazem novamente
à realidade
palavras dão-me a sensação incólume de estar puramente vivo
convivo com suas lembranças inexistentes
e não me esqueço que arrancastes de mim
um sorriso uma lágrima e um sorriso

Meu relógio anda desigual
da freqüente chuva que freqüenta meus cabelos
sinto deixar passar um pequeno vazio imenso
enquanto minha luta diária está vazia, esvaziada de sentidos sinceros

Estou em meu posto de não-observação
Uma parte da parte que sou está sempre vigiando atenta
de meu posto de observação
você ainda sorri e encanta
soma a cartas hipóteses (in)alteradas
e impõe funções à uma parte da parte
do poeta inespecífico e fragmentado,
que por força de observações e emoções e observações,
se despertou

27/01/2004

ALUCINAÇÃO

ALUCINAÇÃO

Não culpem-me pelo peso excessivo
e nem pelos dizeres de uma memória alucinada
Todo o dia se passou como todo dia se passou
e vejo no horizonte um beijo ardente
Senti-me nostálgico por causa da canção
mas mesmo assim me dedico arduamente
para um futuro que já se passou
e nunca se passou...
Formas de carinho são imprecisas
e preciso me rever intacto sob a lua

Fértil, extremamente fértil
um mergulho em fontes de águas escuras
clareia todo o espírito estético
perdido dentro de mim

Nada sei de um forte calafrio
ansiedade, medo, temor
um amor sinestésico não vivido
Dividido
esquecido sob as cinzas de uma parte, metade
Confundo os lugares que passei
efetivamente não são muitos os lugares que passei
Contraste com os meus sentimentos
vívidos e não explicados
Pelo que eu saiba
nunca perdi o que há de melhor em mim: imaginação

Situei-me à margem
e desfiz o caminho mais provável; coragem
clareio um mar e me escondo sob as folhas de uma árvore
O livro estava aberto
e nunca me atrevi a rabiscar suas folhas
mas sempre reli e entendi todo o teor de palavras retomadas

Um pássaro rumou para seu ninho
desfiz contatos
e atropelei um galho
que corria leve no fundo do mar
Distraído
pensei em não mais voltar


01/04/2004

DIVERGÊNCIA EXTERNA

DIVERGÊNCIA EXTERNA

Faz-se um dia sombrio
sóbrio, não permiti que estendesses tua rede a meu lado
Cansado, desisti da incoerência da produção
e percebi, perplexo, a imperícia do mundo
Perplexo, como alguém que não sai de seu lugar impróprio
e desanda a chorar por timidez
ou, quem sabe, por covardia

Em um estádio lotado deixei meu corpo
e observava incrédulo e tenso as águas caudalosas deste rio
inapto que julga-se o máximo
As margens delimitam exatamente
o que se pensa ser o único caminho provável
Não mais me vi obrigado a marchar submisso
por entre um mar de ilusões e possibilidades
Ainda prefiro ser filosófico e poético
a ter que comprar um item inútil novo
Repasso meu grito
Ridículo, me vejo frente a meus semelhantes
mas, ainda assim, sigo meu ritmo lento pensante

Desafio conceitos consagrados e estrago relacionamentos
com essa impetuosidade de não se convencer facilmente
Acabo, por fim, meditando solitário
por entre nuvens brancas de concreto
Acerto uma marcha desigual
cheia, porém fantasiosa
e uma lápide que mirei
funciona como uma alavanca imprópria
para um sopro que alcancei
03/02/2004

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Indicações

INDICAÇÕES


Segui setas insinceras
e dispensei o funeral por me ver
moribundo frente ao seu olhar inteligível
Teci uma mortalha inimitável
e cansei-me de esperar
Andei na chuva, molhando os pés na enxurrada
Verifiquei meu pulso e constatei
que o mar estava agitado
Hoje não mais me calo frente à tempestade
Temi seu sono e soprei os cabelos
descoloridos que se apresentaram quentes
Amei um sorriso... um sorriso... um sorriso...

Viajei e dobrei a esquina
encontrei-me comigo observando o não-movimento;
reflexão
Sorri e inventei uma nova dança
escondi meu rosto em tuas mãos
aproveitei o momento inerte
e saí dos trilhos
novamente colhi setas e mais setas
segui caminhos...
e nunca mais me encontrei


26/02/2004

sábado, 2 de maio de 2009

Posto de Observação

POSTO DE OBSERVAÇÃO


Em meu quarto penso a existência do mundo
Falta excelência, dilui-se a essência
Num passo compasso
Marcado e
Forçado

Aqui eu confisco o milionário e a prostituta
E o aluno em formação
Na troca; salário
Vestiário e
Submissão

Aqui viajo livre por entre livros e palavras
E em jornais e notícias
Poesias; realidades
Verdades e
Fantasias

Vejo o livre amor traduzido em conflito
E palavras deslocadas
Fabricadas; estudadas
Inventadas e
Validadas

Namoro deusas inexistentes esculpidas
Em padrões vigentes
Voláteis; coercivos
Instáveis e
Submissos

Navego em páginas rápidas conectadas
Mercantilismo forte frustrado
Liberdade; informação
Formação e
Identidade


03/06/2003